segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Viaduto e a Cidade


Tentar mapear os locais de Belo Horizonte onde a vida noturna é mais agitada pode ser fácil para quem mora há muito tempo na cidade. O bairro Santa Tereza, sem dúvida, é um dos primeiros nomes que vem à cabeça quando o assunto é boemia. No entanto, o que vem se destacando neste quesito de uns tempos para cá também remete ao tradicional bairro belorizontino, embora fique no centro da cidade. É o viaduto do Santa Tereza, ou melhor, a parte debaixo dele.

Inaugurado em 1929, o viaduto é umas obras arquitetônicas mais importantes do Estado. A construção, que liga os bairros Floresta e Santa Tereza ao Centro de Belo Horizonte, marca o início da modernização da cidade e está presente até na literatura de Fernando Sabino e outros escritores mineiros. Próxima ao viaduto está a Praça da Estação, onde desembarcavam dos trens de ferro as pessoas e os materiais necessários para a construção da cidade.

Em pleno setembro de 2010 é possível dizer que a região que vai desde a área existente debaixo do viaduto até a Praça da Estação se tornou um verdadeiro palco que abriga diversas manifestções culturais, como shows de bandas, apresentações de hip hop e protestos bem humorados. Hoje, um dos cenários mais charmosos de Belo Horizonte é também sinônimo de Duelo de Mc's, Nelson Bordello, Praia da Estação e o que mais tiver de vir.

Muito mais do que um simples local onde amigos se reúnem para tomar cerveja, a região vem se configurando como espaço de encontro entre tribos urbanas que marcam presença para conferir as diversas manifestações culturais que ali acontecem. Uma das principais delas, sem dúvida, é o Duelo de MC’s, evento realizado toda sexta-feira à noite num palco montado logo debaixo da pista do viaduto, onde são apresentadas disputas entre MC’s, além de shows de hip hop e de outras manifestações urbanas. O Duelo vem sendo considerado um importante local de encontro para a cultura hip hop da cidade.

O espaço debaixo do viaduto também já abrigou o Festival Sensacional (Simpósio de Empreendedorismo Nada Sensato Articulado no Cenário Internacional e Organizado por Nossos Amigos Legais), evento gratuito realizado em março deste ano que reuniu bandas locais e internacionais, além de Djs e artistas circenses.

Mais um pouco para a lado, na Rua Aarao Reis, em direção à Praça da Estação, tem o Nelson Bodello, bar, restaurante e cabaré cultural que tem se mostrado aberto à diversas experimentações artísticas. Há poucos meses funcionando, a casa, que tem clima de bordel, possui traços que lembram os bares e casarões da famosa Lapa carioca. O programação do lugar se dedica a um tema específico para cada dia, o que confere ao bar uma diversidade de estilos que vai do funk ao jazz, passando pelo samba, pela literatura e pelas artes cênicas.

Chegando à Praça da Estação, nos deparamos com a lembrança de uma série de manifestações realizadas no início do ano contra o decreto nº 13.798 de 09 de dezembro de 2009, que previa a proibição de eventos de qualquer natureza no local. Em oposição, vários universitários, pessoas ligadas às artes e simpatizantes pela causa organizaram a Praia da Estação, protesto bem humorado e pacífico que ocorreu durante sucessivas manhãs de sábado. A ideia era reunir pessoas vestidas de roupas de banho e munidas de cangas e outros objetos de verão para criar uma verdadeira praia na Praça da Estação.

Olhando de forma conjunta, esses eventos geraram uma transformação no espaço que abrange as pontas da rua Aarão Reis, que vem ganhando configuração de berço de onde brotam e são acolhidas as mais diversas manifestações culturais. Ao ocupar esses locais, os eventos criam oportunidades para que as pessoas consigam estabelecer relações diferentes com a cidade onde moram.