104

ESPAÇO ABRIGA 5° VIVO ARTE.MOV E FESTIVAL ELETRONIKA

Por Mariana Andrade e Débora Amaral 
Fotografia: Netun Lima

Não muito longe do viaduto Santa Tereza, há outro local que vem colaborando para o fortalecimento da vida cultural no entorno da Praça da Estação. É o CentoeQuatro, espaço onde são realizadas diversas atividades voltadas para a educação, arte e cidadania.

O centro cultural é localizado num prédio tombado pelo património público que integra o conjunto arquitetônico da Praça da Estação. Alí funcionava a fábrica 104 tecidos, criada em 1920 - época em que Belo Horizonte dava os primeiros passos para o desenvolvimento urbano. Após uma reforma do prédio e adaptação do nome, o CentoeQuatro passou a abrigar uma programação cultural variada, que contempla não só projetos próprios, como também eventos criados por organizações e coletivos que trabalham com a promoção de arte e cultura.


Entre os dias 18 e 21 de novembro, foi possível conferir no CentoeQuatro o Arte.Mov, festival voltado para a produção em mídias móveis e debate sobre novas tecnologias. Em 2010, o evento acontece em cinco cidades brasileiras: Belém, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.


Para o curador do festival, Lucas Bambozzi, Belo Horizonte se insere nessa rede de arte e tecnologias  promovida pelo evento de forma particular. Segundo ele, “a produção de imagens realizada na capital mineira se manteve, por muito tempo, experimental”. De acordo com o curador essa característica se deve ao fato de que, durante muitos anos, não existiu na cidade um fluxo forte de produção voltado para TV ou cinema. Lucas afirma que “por não almejar as telas comerciais”, o audiovisual em Belo Horizonte foi obrigado a “cavar um circuito próprio”.

Outra particularidade do Arte.Mov BH é que, neste ano, o evento incorporou também a programação do Eletronika, festival de música realizado na capital mineira desde 1999. Segundo o curador Marcus Bastos, unir a programação dos dois festivais fez com que o Arte.Mov voltasse às origens, já que ele “nasceu no Fórum de Mídias Eletrônicas, que há alguns anos integrava a programação do Eletronika”.

Durante os quatro dias, artistas importantes da cena eletronica internacional marcaram presença nos palcos do CentoeQuatro. Dentre eles se destaca o Dj Patricktor4 (PA), que fez o público de sábado dançar muito ao som de misturas inusitadas, que trazem sons regionais do norte do Brasil, afrobeat, tecnobrega e até músicas típicas de países do leste europeu.

Outro destaque do Eletronika foi o show de Señor Coconut y su orchestra, músico e vídeoartista alemão radicado no Chile. Trajando um visual “engomadinho”, Coconut encerrou a programacao do Eletronika apresentando suas versões latinas de clássicos da música pop internacional.


PROGRAMAÇÃO VIVO ARTE.MOV

A programação do evento em BH foi composta por simpósios, mostras audiovisuais brasileiras e internacionais, exposições, showcases, além da mostra competitiva e a premiação do melhor vídeo enviado.




Os debates aconteceram na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, onde foram discutidas as temáticas: “mobilidades e imobilidades urbanas”, “expandir o presente e contrair o futuro” e “novos modelos de negociação da vida no espaço”.

O destaque das mesas foi dado a Bruce Sterling, futurista norte-americano que problematiza o fascínio pelas novas mídias e prevê a morte de ferramentas amplamente utilizadas atualmente, como o Google, o Facebook e até mesmo o Windows. Bruce afirma que “novas mídias e tecnologias morrem diariamente.”

Bruce é contra o fetichismo que a sociedade contemporânea pratica em torno de produtos tecnológicos. Segundo ele, “no futuro é possível que muitos se perguntem: porquê eles se preocupavam tanto com a internet, se é algo que nem precisamos mais? Porquê o consumo de tanta tecnologia se eles sabiam que nossos recursos acabariam?”.
Assista aos conteúdos dos simpósios pelo streaming do evento.


Dentre as exposições, o público se impressionou com Daniel Belasco, autor da obra The Drawning of my Life (O desenho da minha vida). Desde 2003 o artista grava, em seu GPS, os percursos que realiza e recolhe os vestígios gráficos destes trajetos. O resultado é a imagem de um mapa que revela os caminhos pelos quais Daniel transitou em Berlim nos últimos anos.



Na mostra competitiva, o prêmio foi para o vídeo Orawa, de Felipe Barreto, que captura as costas de um maestro durante o ensaio de um concerto. De acordo com o autor da obra, “foi um insight. Estava no ensaio, vi as costas do músico e pensei: tenho que filmar isso”.

ARTE E TECNOLOGIA DISCUTIDAS DO NORTE AO SUL DO PAÍS



Neste ano o Vivo Arte.Mov acontece em Belém, Salvador, Porto Alegre e São Paulo. De acordo com o curador Lucas Bambozzi, o tema “Novas Cartografias Urbanas” foi trabalhado de maneira particular para cada cidade: “Em Belém pensamos em processos de formação, já que é a primeira vez que o Arte.Mov acontece por lá. Em Salvador fizemos um programa capaz de desenvolver o que foi discutido no ano passado. Em Porto Alegre, onde a cultura do cinema é muito forte, tentamos incluir este universo às discussões. Já BH e São Paulo contam com uma programação que reúne o que foi debatido nas outras cidades"


Assista aqui o vídeo que mostra um pouco de algumas performances realizadas em Belém e em Salvador. 

A edição do Arte.Mov São Paulo acontece do dia 29 de novembro a 5 de dezembro. Para conferir a programação, acesse artemov.net.


TUITEIROS SOBRE O ARTE.MOV BH:


@cafasorridente: Para mim, o melhor show do eletronika foi o @patricktor4 uma espécie de versão brazuca carimbó do tio Girl Talk. coisa linda


@arturdeleos: "O google usa as redes sociais e está na verdade explorando o trabalho de muitas pessoas" Brice Sterling n#artemov