Fora do Centro



                                    Onde os Mortos se Divertem

Alternativa para quem não aprecia o nosso "Dia de Finados"

Por Mariana Andrade e Débora Amaral

Primeiro de novembro, o dia dos mortos, é uma data comemorada com muita festa no México e em alguns paises da América Espanhola. Os rituais, de origem indígena, tem o objetivo de celebrar a vida e a morte. Segundo a tradição mexicana, é nesta data que os mortos voltam para visitar os seus familiares, que os recepcionam com muita música, comida e bebida.

Aqui no Brasil, país de forte tradição católica, o dia dos mortos é conhecido como Dia de Finados e é comemorado um dia depois. A data coincide com o período de celebração do calendário mexicano, porém os rituais são outros: no lugar de festas, os parentes visitam os túmulos, levam flores e rezam por aqueles que já se foram. Essa é a rotina do dia dos mortos para boa parte dos braliseliros. Mas não para todos.

Para quem mora em BH ou nas suas redondezas, foi possível passar o feriado de outra forma. No último 1º de novembro ocorreu a primeira edição da festa "Dia de los Muertos em Macacos".  O evento, organizado pela banda mineira de Ska Pequena Morte, levou uma série de atividades culturais para a praça da igrejinha principal do distrito de São Sebastião das Águas Claras - mais conhecida como Macacos, que fica a 30 quilômetros de Belo Horizonte.



Victor Diniz, Mariana e Fábio. Morte, vida e diversão.

Victor Diniz, produtor da banda e realizador da festa, explica que o dia dos mortos, tanto quanto a região de Macacos, possuem uma conexão intensa com o grupo: “Oriundo do francês “petite mort”, o nome “Pequena Morte” nada mais é do que uma referência ao orgasmo. É morrer um pouco para renascer melhor. Morte, vida e festa são palavras que conceituam o som e a identidade visual da banda. Macacos é a cidade onde a banda começou e também onde ela retorna para a gravação do nosso primeiro CD (lançamento previsto para janeiro no ano que vem). Concluimos então que o dia dos mortos seria uma incrível oportunidade para comemorarmos este processo, apresentar o grupo aos moradores da região, além de movimentar a economia local com atividades culturais alternativas.” 


A festa começou por volta das 16h, com a exibição do filme “Griot/Mestres da Tradição Oral de Macacos ”, no Instituto Kairós. O documentário trata dos mestres do saber popular da região, bem como sua religiosidade, culinária e flora medicinal. “Apesar de ser muito próxima de BH, Macacos possui características muito particulares.  Nossa parceria com Instituto Kairós, que defende o patrimônio histórico e que luta pela preservação do meio ambiente local, vem no sentido de ampliar a percepção do público e atentá-lo para as questões sócio-culturais da região.”, comenta Diniz.
 
Às 17h  foi a vez dos performáticos “Bigode Louro e Bigode Moreno” da TV Queijo Elétrico darem a largada na festa. Na sequência, o público foi convidado a participar de um cortejo percussivo. Munidos de tambores e outros instrumentos, o grupo seguiu em bloco pelo arraial. Cantando, tocando ou dançando, foi possível participar como bem entendessem. Dj Gustassifon,  do Roodboss Soundsystem  entrou em seguida  e esquentou as estruturas para o show dos pernambucanos “Babi Jaques e os Sicilianos”, que embalaram a festa com bom rock e regionalismo.

Depois de muito suor e alegria é chegada a hora da última atração. Como num take cinematográfico, o primeiro acorde de guitarra da  banda “Pequena Morte” é acompanhado por uma chuva torrencial. A performance foi pura magia. Ao invés de se esconder nas poucas marquises que havia nas ruas,  o público, embalado pelo clima alegre de Macacos e pelo som vibrante da banda,  decidiu lavar a alma e repor as energias com o presente enviado por São Pedro: “O TORÓ CAIU E A GALERA FOI PRA DEBAIXO!”, comenta no dia seguinte o jornalista Bruno Vieira pela página do evento no Facebook.


Divulgado apenas por dispositivos e ferramentas online (“spam solidário”, twitter e Facebook) e com o investimento de módicos R$700,00, o “Dia de Los Muertos em Macacos” provou que a mobilização em rede, a colaboração entre amigos e a inusitada comemoração da morte podem confluir em realizações festivas de muito sucesso.







Quintal do Samba

 Com quase dois anos de existência, o projeto Eu Canto Samba reúne, na região Nordeste de Belo Horizonte, pessoas das mais diversas origens. 

Por Débora Amaral e Mariana Andrade

Quintal do Divina Luz.  Sucesso com a divulgação "boca a boca".

         Saindo da Avenida Cristiano Machado e entrando pela José Cândido da Silveira, seguimos na direção indicada pela placa de entrada para o bairro São Marcos. A ideia é procurar diversão e cultura longe da região centro-sul de Belo Horizonte, cujos bares e casas de shows já são bastante divulgados pelos jornais, revistas e blogs que publicam a programação de lazer da capital mineira. Adentrando a área descobrimos uma vista privilegiada que, infelizmente,  não se encontra nos cartões postais da cidade. Depois de uma parada para a foto da paisagem, pedimos informação para um morador do bairro que indica a casa onde acontece o projeto Eu Canto Samba, do Quintal do Divina Luz. 

Bairro São Marcos. A Paisagem não faz parte dos Cartões Postais de BH.
          São quatro horas da tarde e muitos carros já estão estacionados na porta (dentre eles, chama a atenção estarem lado a lado um Fusca e um Honda Civic). Da calçada da rua avistamos o chão de cimento batido com algumas mesinhas espalhadas, cobertas por toalhas de chita. Beirando a entrada da casa, um barranco íngreme com um galinheiro num canto e a sombra de duas mangueiras no outro. Mais ao fundo do quintal, vemos outras mesas e um fogão à lenha onde é preparada a comida vendida para o público.  No cardápio, porções de tira gosto típicos de buteco, além de galinhada, canjiquinha e feijão tropeiro . Para acompanhar, cerveja gelada a R$4.

Samba de Terreiro.  Eles não escondem as galinhas.

        Quem nos recebe é a simpática Kely, que nos leva até a parte de dentro da casa. Pouco depois aparece Serginho Divina Luz, único morador da residência, que batizou o quintal da casa com o próprio nome. Ele nos conta que o projeto Eu Canto Samba nasceu do encontro de amigos, compositores e sambistas que se reuniam para compor músicas e comer bons pratos mineiros. Com 31 anos de samba na bagagem, Serginho inaugurou o espaço no dia 26 de outubro de 2008. Depois de quase dois anos de existência e contando apenas com a divulgação “boca a boca”,  o Quintal do Divina Luz reúne, em média, 300 pessoas a cada Domingo e já teve como convidados alguns bons nomes do Samba brasileiro como Wanderley Monteiro, Toninho Geraes e  Dé Lucas.


Serginho Divina Luz. 31 anos de Samba.
 
          O relógio aponta 18h quando a banda Roda Viva começa a tocar. A previsão é de que o show dure até às 21h30, com um pequeno intervalo nesse meio tempo. No repertório, clássicos do samba e composições do grupo de amigos que freqüenta a casa de Serginho Divina Luz. A música embala casais que dançam à dois, além daqueles que arriscam um passo de samba sozinhos. Há também quem fique sentado na mesa, apreciando a música. Nas cabeças, vários chapéus panamá.

Diversidade.  Som que alegra todas as idades.
          Entre uma música e outra, quem entra da roda de samba para dar uma canja é a cantora mineira Janaína Moreno, que hoje mora no Rio, onde recentemente ganhou o concurso Novos Bambas do Velho Samba do bar Carioca da Gema. O espaço é, atualmente, uma das principais casa de samba da Lapa carioca, que já abrigou talentos como a cantora Teresa Cristina. Para Janaína, o projeto Eu Canto Samba é parada obrigatória todas as vezes que ela vem visitar Belo Horizonte. “É como voltar para casa para ficar forte”, diz a cantora que já comemorou dois aniversários no quintal Divina Luz. 

Janaína Moreno. "Aqui é o meu Axé"
       De acordo com Bartolomeu Mendonça, músico e freqüentador cativo do local, as canções ali tocadas são capazes de misturar pessoas das mais diversas origens: “O que nos une é linguagem do samba. Ela é acessível a todos. Aqui é o lugar mais nobre de BH, é a nobreza da alma, da sensibilidade.”, conta em tom de poesia. 

Bartolomeu Mendonça. "Todos convergem no samba de boa qualidade"

Para quem se interessou, o projeto Eu Canto Samba acontece todo domingo, a partir das 17h, no quintal Divina Luz – Rua Maria Aparecida, número 375, bairro São Marcos. A entrada custa R$8 para mulheres e R$10 para homens. Outras informações no blog http://projetoeucantosamba.blogspot.com/ ou com o próprio Serginho: (31) 9154-4195